segunda-feira, 21 de agosto de 2017

As sete saias da mulher da Nazaré



© Rosária Pacheco, "As setes saias da mulher da Nazaré", 14 de Agosto de 2017



Existem muitas explicações inconclusivas sobre o traje tradicional da mulher da Nazaré, mas numa coisa todas concordam: o seu traje constituído por várias saias (sete ou não) está relacionado com a vida do mar. Este traje, rico ou pobre, de festa ou de trabalho, ainda é bastante usado no dia-a-dia destas mulheres. 
Nazaré é conhecida por ser uma terra cheia de lendas, mitos e tradições. Continua a ser uma terra de pescadores. O traje feminino está intimamente ligado à vida das mulheres dos pescadores. O número de saias também. Entre os vários significados das sete saias, existe um que testemunha um costume das mulheres da Nazaré. As nazarenas tinham o hábito de esperar os maridos e os filhos no regresso da pesca no mar. Sentadas no areal, passavam aí muitas horas em vigília. As saias eram utilizadas para se cobrirem do frio. As de cima serviam para cobrir os ombros e a cabeça e as de baixo para tapar as pernas e, desta forma, estarem “compostas”. O número sete ainda tinha outra razão de ser. Dizem os antigos que usavam as sete saias para ajudar a contar as ondas do mar. As nazarenas, que conheciam bem o mar, sabiam que de sete em sete ondas alterosas o mar acalmava; para não se enganarem nas contas, elas desfiavam as saias, tal como as contas de um rosário, e quando chegavam à última sabiam que vinha o raso (as setes ondas calmas ou pequenas), logo, sabiam que era a altura dos barcos dos seus entes queridos encalharem na praia.
Para além do traje de festa que ainda é usado por todas as nazarenas no Carnaval, Domingo de Páscoa e também pelos ranchos folclóricos, é muito comum encontrarmos mulheres vestidas com o traje de trabalho. Existe ainda um terceiro traje todo preto e sem rendas ou bordados, com as saias de baixo cinzentas, usado pelas mulheres mais idosas ou viúvas.
O traje da mulher da Nazaré não parou no tempo. Ora mais curto, ora mais comprido, adaptando novos padrões, tecidos e cores ele continua a ser uma tradição que faz desta vila de pescadores um local a visitar e revisitar pela sua beleza e forte ligação à vida do mar e pela sua história religiosa, bastante visível no local chamado Sítio, onde se situa a gruta antiga (Ermida da Memória) onde encontraram a imagem da Nossa Senhora da Nazaré, que actualmente se encontra no altar- mor do Santuário desta vila.